Ecoh

Claudia Silva, a reflorestadora do afeto

Por Giuliano Tierno

Claudia é (é assim que quero me referir a ela, porque continua e continuará sempre presente) uma das mais importantes produtoras culturais na área de Contação de Histórias do país. Ela conseguiu juntar sua paixão por contar histórias como jornalista ao que de melhor sabia fazer: promover encontros, criar vínculos, juntar gente de diferentes territórios e modos de ver, sentir, pensar para conversar, para produzir belezas.

Eu considero a Claudia, fazendo uma analogia, como um ser das florestas, como alguém pertencente aos povos originários. Ela sabia manejar a “floresta da cultura”, cuidava da diversidade das espécies. Ela não hierarquizava nada, tudo vivia em igual grau de importância. E isso se materializa na criação do ECOH – Encontro de Contadores de Histórias de Londrina no ano de 2011 e que segue até hoje. Esse festival marca e muda completamente o cenário da narração de histórias no Brasil. 

Duas características fundamentais, para mim, desse Encontro de Contadores de Histórias: a continuidade – e isso é muito importante para qualquer área da cultura e é muito difícil de acontecer, justamente pelas descontinuidades das políticas públicas – mesmo diante das adversidades, ela sempre insistiu em sua manutenção; e a segunda característica, a valorização e o respeito fundamental ao ofício das pessoas que narram: Claudia cuidava pessoalmente de receber as pessoas, de estar nas apresentações e se entregava ao prazer de ouvir uma história. Lembro de seu sorriso largo, de sua risada alta, de seu choro compartilhado ao término de uma apresentação ao abraçar dedicado a cada contador e contadora de histórias. Estava na nossa chegada, nas apresentações, nos almoços, nos jantares, nas despedidas que eram sempre um “até já”. 

Sua capacidade de abraçar o diverso, de suspender as hierarquias, de se contentar em estar presente numa conversa, de se preocupar com o que era público e comum, com o desejo de que mais gente pudesse ter o direito de ouvir histórias, de fazer da cidade de Londrina um dos centros mais importantes da narração de histórias do país, de fortalecer os artistas locais, valorizando-os (como deveria ser comum a todos os agentes culturais).

Claudia era uma reflorestadora do afeto. Sabia unir o compromisso ético com a alegria celebrativa. A imagem da Cláudia em minha memória será sempre da festa, da celebração, da alegria de se compartilhar a existência. Claudia continua sendo a imagem do cuidado pluriversal com o nosso planeta em cada gesto miúdo. Além de tudo isso, Cláudia é uma grande amiga, alguém que será para sempre uma referência de amor ao cultivo das sensibilidades. Claudia soube escutar as demandas pelas histórias na cidade de Londrina, do país. Seu profundo desejo era de que o Brasil conhecesse o Brasil. No Brasil não há síntese, há diferenças. E Claudia amou com toda a sua existência a diferença e nesse ato aproximou semelhanças. O ECOH materializa esse profundo amor. 

Giuliano Tierno é narrador, autor, doutor e mestre em Artes pela Unesp, sócio fundador d’A Casa Tombada e curador do ECOH.