Ecoh

Um chamado para lembrar da sua magia pessoal

Relato sobre o aquece do 12º ECOH ao redor da fogueira.

Por Christina Mattos

O convite era pra jantar e juntar a equipe do 12º Encontro de Contadores de Histórias de Londrina. O lugar, a deliciosa casa da Claudia Silva que conduz o encontro desde sempre. 

Nos sentamos à mesa na varanda e entre goles, bocados, risos e longos abraços, ouvimos a Claudia falar sobre cada um dos convidados, revelando de forma extremamente carinhosa o modo que ela vê as pessoas da equipe e os amigos que ali estavam. 

Depois do jantar, acomodados em volta da fogueira no jardim, continuamos a conversa debaixo do céu estrelado de inverno. Claudia lembrou Elena Andrei, saudosa professora da UEL e grande conhecedora de contos africanos e provocou. 

Foto: Valéria Félix

– Qual a diferença entre teimosia e perseverança? Elena me falou e eu nunca esqueci. A diferença entre a teimosia e a persistência é o resultado. Se deu certo no final, você é uma pessoa persistente. Se dá errado, você é só um teimoso que ficou ali insistindo numa ideia. Concordo muito com ela, chegar ao 12º ECOH tem um pouco de teimosia e também de persistência, afinal tá dando certo! (risos)

Soubemos então que ouviríamos alguns trechos do livro “As Cartas do Caminho Sagrado – A descoberta do ser através dos ensinamentos dos índios norte-americanos”, de Jamie Samse, escritora estadunidense. O livro apresenta 44 cartas, cada uma com uma mensagem particular para auxiliar em processos de autodesenvolvimento, interpretadas de acordo com a sabedoria indígena.

 Às vésperas de realizar mais uma edição do Encontro de Contadores de Histórias de Londrina, Clau está em tratamento contra um câncer. Ela disse que escolheu o livro porque, entre outras coisas, há uma linda história de amizade.

– Acho que é uma leitura pertinente porque eu tenho tido o apoio de muitos amigos nessa história toda do câncer e também no ECOH. Sou muito grata aos meus amigos. Estou vendo que uma das coisas boas que eu fiz na vida foi cultivar muitos amigos. 

Além do mais, o livro era uma leitura perfeita para a ocasião porque ao abri-lo aleatoriamente, ela encontrou a carta do contador de histórias. 

Foto: Valéria Félix

– Tudo que o que eu estou lendo e fazendo dentro do processo de cura, fala da necessidade da gente se expandir. Aí eu abro esse livro e vejo escrito na carta do contador de histórias: “expansão”. Olha só:

“Os contadores de histórias da América Nativa são os guardiões de nossa história, de nossas sagradas tradições. Cabe a eles conservar vivos os nossos antigos conhecimentos para assegurar a futura expansão que nossos filhos trarão a Terra. Os contadores de histórias viajavam entre os grupos e as tribos das diversas nações, levando as notícias dos acontecimentos que afetavam a todos os nativos. O contador de histórias costumava contar os fatos que aconteciam em outros acampamentos ao redor da fogueira comunitária depois do jantar.” 

– Por isso eu pedi pra vocês comerem antes da gente vir pra perto da fogueira. (risos) 

“O contador de história falava de atos heroicos, da contagem de golpe sobre algum inimigo, de um sonho de cura que profetizasse futuros acontecimentos. Histórias de sabedoria que conservavam a viva tradição ou ainda traziam as últimas notícias acerca de nascimento e de mortes nas tribos. Os índios das planícies costumavam chamar seus contadores de histórias de cabelos trançados, esses contadores de história usavam uma pequena mecha com tranças e nós que lhes caía pelo meio da testa e que os caracterizava como professores e historiadores da tribo. Um cabelo trançado do sexo masculino não precisava participar das batalhas, mas deveria observar tudo e recordar-se mais tarde, passo a passo do desenrolar da luta. Já um cabelo trançado do sexo feminino era a historiadora que mantinha viva a tradição feminina e que deveria ensinar as mulheres mais jovens a sentir orgulho de seus respectivos papéis dentro da tribo.”

 “Os contadores de histórias de todas as tribos e nações constroem uma ponte entre os ensinamentos tradicionais e o momento presente. As crianças de todas as gerações aprendem as lições tradicionais que os contadores de histórias ensinam e aplicam essas histórias de sabedoria às suas próprias vidas. Também os pais e avós costumam contar as histórias de sabedoria para as suas crianças todas as noites, na hora de colocá-las debaixo dos mantos do búfalo para dormir. Mas isso não produzia o mesmo efeito que a chegada do contador de histórias da nação que visitava as tribos regularmente para contar suas histórias das crianças.”

 “As histórias de sabedoria costumavam ser contadas e recontadas ano após ano, para que os ensinamentos do povo permaneçam vivos. Cada história possui diversos significados e relaciona-se de formas diferentes a vida de cada pessoa. A cada vez que uma história é repetida, cresce o nível de entendimento de acordo com amadurecimento das pessoas que estão escutando. Os mesmos acontecimentos dentro de uma história podem ser repetidos inúmeras vezes de maneira diferente, para que cada ouvinte possa perceber de que modo aquela história se adapta melhor a seu próprio momento de vida.” 

Foto: Valéria Félix

– Isso é muito lindo: como as camadas das histórias vão sendo percebidas dependendo da maturidade das pessoas.

“O contador de histórias possuía o dom de contar histórias de sabedoria, nas quais as pessoas agiam levadas pelo medo ou pela ignorância, sem, no entanto, referir-se a alguma pessoa em particular. Assim aos ouvintes se tornavam capazes de chegar às suas próprias conclusões.”

 “Todos os sábios nativos preferem ensinar por meio de histórias a apontar diretamente os defeitos de alguém. Em nossos ensinamentos sempre nos recordam que quando apontamos o dedo acusando alguém, três outros dedos estarão apontados para nós.”

“Por outro lado, o contador de histórias consegue, com sua técnica, indicar delicadamente os pontos em que estamos errados, permitindo-nos corrigir nosso comportamento sem que passemos vergonha na frente dos companheiros. Essa é uma forma didática de permitir que cada pessoa decida como aplicar as histórias ouvidas em sua própria vida.”

– Agora vamos para a aplicação que a carta sugere. Como eu disse, estou fazendo várias buscas no processo de cura e tenho aprendido muito. A carta do contador de histórias indica expansão em todos os níveis:

“Esta carta sugere uma fase de muito crescimento favorável a assimilação de novas ideias. Descubra qual é o aspecto do seu próprio ser que necessita de maiores cuidados e passe a alimentar mais o seu fogo de criação pessoal. Incremente a sua criatividade e aproveite este momento de expansão, consciente de que ele é bem-merecido. Observe que essa fase de expansão prosseguirá se você estiver disposto a partilhar as causas do seu sucesso com outras pessoas. Muitas vidas têm sido influenciadas pelas histórias alheias. Aproveite a boa sorte que se abre para você neste momento, mas não se esqueça, você também deve encorajar as outras pessoas que estão à sua volta a expandir-se.”

“Em todos os casos a expansão acontece toda vez que as pessoas enxergam a possibilidade de crescer seguindo seu próprio ritmo e usando o seu próprio discernimento. A sabedoria do contador de histórias reside na arte de conseguir relembrar os fatos mais importantes. Sim, você está sendo chamado a relembrar-se de sua magia pessoal, está podendo manifestar neste momento todo o seu potencial criativo.”

– Eu espero ter tocado o coração de vocês e proponho que a gente faça um grande brinde à amizade, ao meu processo de cura e ao início do 12º ECOH.

Se você gosta do ECOH, diga também: Vivaaaa!!! Uhuuuu! E vem com a gente!